Ações inovadoras em saúde pública no Paraná, são reconhecidas por Prêmio Internacional Guangzhou, na China

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Rita Braune e Marcia Chame - Equipe PIBSS

O município de São José dos Pinhais na área metropolitana de Curitiba, Paraná, foi selecionado pelo 5º Prêmio Internacional Guangzhou como uma das 15 cidades no mundo, entre 273 iniciativas de 60 países, que adotaram práticas inovadoras para a sustentabilidade social, econômica, ambiental e melhoria da qualidade de vida das pessoas.

A iniciativa "Tecnologia digital e participação social na vigilância e definição de áreas e ações prioritárias para o controle da Febre Amarela no Brasil" é resultado do esforço conjunto  entre a Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre (PIBSS) da Fiocruz, a Coordenação Geral de Vigilância das Arboviroses (CGARB) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, a Secretaria Estadual de Saúde do Paraná e a Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ) da Secretaria Municipal de Saúde de São José dos Pinhais. 

Em 2019, com a dispersão do vírus da Febre Amarela para o sul do Brasil e o uso do SISS-Geo pelos profissionais de saúde dos municípios e a mobilização da sociedade, foi possível identificar primatas não-humanos mortos e doentes e a validar, antecipadamente, os corredores de transmissão do vírus com base na metodologia da SUCEM/SP. A identificação das áreas prioritárias para vigilância e vacinação das pessoas com antecedência resultou na redução de mais de 90% de mortes humanas no Sul, quando comparadas às ocorridas no sudeste do Brasil em anos anteriores. 

A UVZ - Unidade de Vigilância em Zoonoses de São José do Pinhais foi a primeira a utilizar voluntariamente o SISS-Geo no monitoramento de primatas não-humanos com resultado exemplar e, por isso, foi o município escolhido para representar a iniciativa que hoje avança para todo o país no 5º Prêmio Internacional Guangzhou.

Em entrevista dada a PIBSS, a Diretora de Atenção e Vigilância em Saúde da SESA Paraná, Maria Goretti David Lopes, destacou a inovação tecnológica em saúde e o Plano de Governo do Paraná 2019/2022"Agir estrategicamente e pensar democraticamente, apontam que um dos grandes desafios da gestão da saúde no Estado é levá-la com qualidade a todos os 399 municípios. Isso requer planejamento estratégico, eficiência e ações inovadoras", disse a diretora.

A Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA-PR) tem inovado em suas ações de saúde pública em diferentes aspectos. A criação da Diretoria de Atenção e Vigilância em Saúde unindo as duas áreas possibilitou a integração efetiva das equipes na construção de ações e trabalhos de forma conjunta. O modelo tem se replicado nas Regionais de Saúde e Municípios possibilitando ganho único na execução de atividades e enfrentamento dos diferentes agravos de interesse em saúde pública.

Veja ainda no vídeo abaixo, o depoimento da Diretora Maria Goretti sobre a participação integrada dos diversos parceiros envolvidos, a cronologia das ações e as estratégias adotadas pelo Governo do Paraná para o enfrentamento da Febre Amarela. Resultados inovadores para a vigilância e atenção em saúde, permitiram replicar a nível nacional, o caso de sucesso de São José dos Pinhais. 

Na entrevista abaixo, Emanuelle Gemin, chefe da Divisão de Doenças transmitidas por Vetores da Secretaria de Saúde do estado do Paraná, descreve como a secretaria atuou implantando ações, integrando e mobilizando diversos órgaõs e áreas técnicas para o enfrentamento da Febre Amarela no Estado.

Emanuelle Gemin é médica-veterinária formada pela Universidade Federal do Paraná, com mestrado em Microbiologia, Parasitologia e Patologia Básica pela Universidade Federal do Paraná. Servidora da Sesa, Secretaria de Saúde do Estado do Paraná há 10 anos, atualmente é Chefe da Divisão de Doenças transmitidas por Vetores.

PIBSS - No período sazonal da Febre Amarela, de julho de 2018 a junho de 2019, ocorreram no Paraná epizootias em primatas não humanos (PNH) em 73 municípios. Quais foram as estratégias de enfrentamento da doença?

Emanuelle Gemin A SESA-PR mobilizou todas as áreas técnicas que possuíam interface com a Febre Amarela para iniciar a implantação de medidas e ações de enfrentamento do agravo no Estado. De forma articulada reuniões técnicas envolveram as diversas coordenadorias e divisões pertencentes à Diretoria de Atenção e Vigilância em Saúde, tais como: Vigilância Ambiental, Epidemiológica, Imunização, CIEVS e  Atenção à Saúde para que se pudesse traçar estratégias coordenadas e repassá-las às Regionais de Saúde e Municípios que estavam sendo atingidos pela ocorrência das epizootias.
Importante destacar que esse movimento culminou em 2019 na implantação do Centro de Operações Estratégicas no Paraná (COE Paraná), instituído por meio de Resolução Estadual para trabalhar com as situações emergenciais de COVID-19, Dengue e Febre Amarela. Neste espaço os temas eram debatidos e orientações e diretrizes eram deliberadas e repassadas às regionais de saúde, municípios, com a participação de instituições parceiras (Conselhos Profissionais, Associações, COSEMS, Ministério Público, Conselho Estadual de Saúde, dentre outros).

Ainda, neste sentido e de forma pioneira, a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (SESA) adotou o uso da plataforma SISS-GEO: Sistema de Informação em Saúde Silvestre. O SISS-GEO é uma ferramenta tecnológica operacional e participativa, utilizado pela vigilância para monitoramento do vírus amarílico, que circula na área silvestre. Esse monitoramento é possível, por registros feitos, não só por técnicos da saúde, mas também pela própria população por meio de qualquer smartphone. Assim, são geradas notificações de primatas não-humanos, possibilitando que ações mais assertivas de vigilância em saúde sejam tomadas, já que as informações permitem análises de casos em todo PR. A partir do uso do SISS-GEO foram intensificadas as ações de vacinação, orientação e mobilização das equipes de atenção à saúde, em especial a Atenção Primária à Saúde nos municípios do Paraná. 

PIBSS - Como foi a adesão do SISS-Geo pela população e gestores e quais benefícios a plataforma trouxe para controle e prevenção?

Emanuelle Gemin Ações de vigilância entomológicas foram realizadas no período para possibilitar o conhecimento da fauna de vetores envolvidas no ciclo da doença nas áreas silvestres e rurais do Estado em que ocorriam as epizootias. A SESA capacitou suas 22 Regionais de Saúde e municípios oportunizando aos profissionais de saúde o conhecimento acerca do agravo da Febre Amarela, cenário epidemiológico, assim como teoria e uso do SISS-Geo. Com essa ação, acreditamos que o sistema vem alcançando grande parte da população paranaense, já que todos esses profissionais foram orientados a difundir seu uso junto à população. Com o uso da ferramenta  SISS-Geo  é possível que as equipes técnicas façam o desenho dos corredores ecológicos (rotas de possível circulação e amplificação do vírus amarílico) o que possibilita aos gestores municipais a antecipação da tomada de decisões, tais como intensificação de vacinação da população em geral, como também das áreas de maior risco.

PIBSS - Como foram as ações de capacitação para uso do SISS-Geo?

Emanuelle Gemin A capacitação do sistema SISS-Geo foi realizada in loco para técnicos de vigilância ambiental das regionais de saúde e seus respectivos municípios. Consiste em duas etapas: uma teórica, abordando a vigilância de epizootias e a utilização da plataforma SISS-Geo e seu aplicativo e realizando o cadastramento dos logins institucionais para os municípios; já a etapa prática é realizada com a coleta de amostras de primatas não-humanos e treinamento dos técnicos para gerar notificações de epizootias georreferenciadas. 

O estado do Paraná é pioneiro no Brasil para a utilização do SISSGeo na vigilância de epizootias de Febre Amarela, é reconhecido pelo Ministério da Saúde por sua experiência exitosa e referência para outros estados do Brasil. 

PIBSS - Quais são as expectativas e próximos desafios?

Emanuelle Gemin Pretendemos continuar na utilização do aplicativo e sua difusão em todo território nacional, além de poder contribuir no aperfeiçoamento da ferramenta. Como desafio, a Sesa pretende ampliar o uso da ferramenta implantando na vigilância de outros agravos de importância em saúde pública.