CISS realiza oficina da Série Vetores com os premiados da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (OBSMA)

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Texto: Anna Carolina Düppre (jornalista colaboradora) Edição: Ariane Mondo

Os 68 premiados da Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente (OBSMA) receberam além de medalhas e placas comemorativas, um kit com a Série Vetores, material educativo sobre artrópodes presentes na natureza produzido pelo Centro de Informação em Saúde Silvestre/Fiocruz e participaram da oficina de montagem, realizada com apoio da equipe da Coleção Entomológica do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz. Ao serem montados, tornam-se modelos tridimensionais do carrapato, mosquito-palha, barbeiro, pulga, borrachudo e mosquito prego. Como descrito no guia explicativo da Série Vetores, quando estas e outras espécies estão fora de seu ambiente natural preservado, causam impactos sobre a saúde humana. Por isso, essa é uma tentativa de conscientização sobre a biodiversidade e sua preservação.  

O projeto foi coordenado pela pesquisadora Marcia Chame e criado pelo ilustrador Renato Moraes. Eles contaram à Olimpíada um pouco mais sobre o projeto.

Fotos: Ariane Mondo e Anna Carolina Düppre

Qual foi a motivação para a criação da Série Vetores? Podem contar um pouco sobre seu envolvimento com ela? 

Marcia Chame: Tenho uma longa história de trabalho de campo com pessoas muito humildes, mas de grande sabedoria e capacidade de observação. Dedico, inclusive, a Série a uma delas:  Sr. Chico (Francisco Reinado) do Parque Nacional Serra da Capivara, no Piauí. Tive ainda a sorte de poder trabalhar com a busca de dados primários, capacitar alunos e professores no sertão e na universidade e sempre pude observar a necessidade e a importância de se construir conceitos e perguntas pela descoberta sem direcionamento: a descoberta pela curiosidade. 

Há anos atrás, o artista Renato Moraes - que elaborou os modelos - me procurou, sem me conhecer, porque queria aprender a fazer ilustração de animais. Ele foi para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro aprender a desenhar plantas e se especializou na Inglaterra na Fundação Margareth Mee. Depois voltou para a Fiocruz, onde desenhou as espécies vegetais ameaçadas do Campus da Fiocruz Mata Atlântica e, como sempre esteve ligado à educação, conversávamos muito sobre como usar desenhos e modelos para ensinar a importância da biodiversidade para as pessoas comuns, agentes de saúde e alunos. Juntos assumimos o desafio de fazer uma série de modelos que chamamos de Série Vetores de modelos tridimensionais.

Foi duro fazê-los e contamos com vários outros pesquisadores e laboratórios para obtenção de insetos que pudessem ser desenhados e observados em lupas, para que Renato pudesse construir as peças de cada um. Por fim, conseguir quem fabricasse os modelos foi outro problema, pois não se trata de material comum. As peças são detalhadas e com muitas exigências para a fabricação das lâminas que cortam o EVA e a placa de PVC das asas.  

Com a insistência, especialmente do Luiz Carlos que trabalha em minha equipe, conseguimos uma empresa para fazê-lo. Faltava ainda textos, embalagens, chegar à construção da informação necessária — sem taxar os animais como vetores, mas antes de tudo como espécies que na magia de se manterem vivas, se adaptam e se relacionam com outras, podendo ou não serem transmissoras de agentes parasitários.No fundo o que queremos é que ao montar os vetores as pessoas se sensibilizem com a complexidade de formas e construam o respeito ao processo evolutivo que as trouxeram até aqui. Se conseguirmos isso, teremos um mundo mais generoso com todas as espécies e com menos problemas. A natureza é fonte inspiradora da ciência e como nós intitulamos, a biodiversidade é a natureza fazendo arte.  

Renato Moraes: O primeiro desafio foi conciliar conhecimento artístico e científico para que trabalhassem juntos. Apesar de artistas ou cientistas, como Leonardo DaVinci, por exemplo, terem sido conhecidos como cientistas e artistas, ao longo das épocas, essas áreas foram se distanciando. Para desenvolvermos a série, eu entrei com a parte do conhecimento artístico e a Marcia Chame, com o científico.

Nas escolas, os professores já usam a construção e desconstrução de modelos bi ou tridimensionais como brinquedos, quebra-cabeças ou desenhos que representam uma ideia, mas nós percebemos que existe uma carência de material de qualidade para atender a esse nicho da educação. Então, resolvemos criar um material de fácil acesso, fácil montagem e durável que pudesse atender ao caráter artístico e científico  nessa área. O legal desse trabalho, que geralmente é desenvolvido só por professores ou cientistas, é que conseguiu unir a ciência à arte.

A ideia é que a Série Vetores possa ser trabalhada em escolas e até mesmo na ação dos agentes de saúde. Os modelos tridimensionais têm um formato que permite enxergar os vetores além das imagens planas que chegam com mais facilidade às pessoas, como fotografias ou imagens na televisão.

Como foi a experiência da oficina na Fiocruz para alunos e professores de todo o Brasil? 

Marcia: Foi uma honra lançar a Série Vetores como prêmio aos alunos e professores da 7a. Olimpíada de Saúde e Meio Ambiente. Afinal aquelas pessoas representam tudo o que desejamos. A Oficina, foi realmente nossa primeira experiência com um grupo desconhecido para nós, de diversas realidades nacionais e faixas etárias. Do burburinho de todos se acomodarem nos laboratórios passou-se ao silêncio da concentração do desafio da montagem. Com o progresso da materialização dos modelos e os artrópodes reais em lupas e microscópios, trazidos pela equipe de pesquisadores da Coleção Entomológica da Fiocruz, voltamos ao burburinho, a novas perguntas. Era tudo o que queríamos. Saber se todos conseguiriam montar sem ajuda. Saber quem conhecia as espécies em suas regiões e responder perguntas. 

Agradecemos à coordenação da Olimpíada pela grande oportunidade, especialmente a Cristina Araripe, coordenadora nacional da Obsma.

Renato: A experiência foi ótima porque pudemos ver pela primeira vez os materiais sendo usados e manuseados. Professores de um lado e alunos de outro, todos os grupos conseguiram montar com pouquíssima intervenção minha. Eles estavam separados para podermos ver como receberiam e trabalhariam aquele material. Eu vi que eles tiveram satisfação na montagem e ficavam surpresos quando viam o artrópode pronto, finalizado. Eles puderam também ver o animal na lupa e associar ao que tinham nas mãos, não tendo aquilo como um brinquedo, mas como material educativo. Considero que foi um sucesso.

Fotos: Ariane Mondo e Anna Carolina DüppreCom a entrega da Série Vetores como prêmio aos alunos e professores, o que esperam acrescentar à "bagagem" educacional deles?

Marcia: Pelas carinhas que vimos acho que conseguimos mostrar que existe um novo jeito de ensinar e aprender. Quando se constroem coisas, modelos no nosso caso, se elabora o pensamento, até porque o tempo de elaboração é maior e permite a imersão no objeto. Esqueceram até o celular! E conheceram espécies que jamais tinham visto e viram o que conheciam de uma forma que também nunca tinham visto, de perto, no microscópio. Tiveram novas percepções. Acho que deu certo!

Renato: Talvez os professores tenham visto que eles mesmos podem pensar em fazer modelos similares. Acho que essa experiência pode levar todos a desenvolver a percepção visual e a curiosidade sobre a natureza, buscando novos ângulos. Eu, como ilustrador científico, percebi em mim mesmo esse aumento na acuidade visual ao longo do meu trabalho. Às vezes, o que nós temos disponível é uma imagem e um texto para fornecer informações, mas nem sempre está ali tudo o que precisamos saber. Nós podemos buscar novas formas de perceber aquela informação e acho que a Série Vetores pode impactar nessa questão para eles assim como fez em mim.

Fotos: Ariane Mondo e Anna Carolina Düppre