Maior banco de dados do mundo sobre zoonoses já está disponibilizado

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Nádia Martinez *

As doenças infecciosas, ainda que em declínio quando comparadas às doenças não infecciosas, representam um grande problema para a saúde pública. Acometem milhões de pessoas no mundo, elevando a mortalidade e morbidade principalmente em países em desenvolvimento.  Há consenso entre pesquisadores, que cerca de 60% das doenças humanas possuem origem de patógenos animais, predominantemente de animais domésticos. No entanto, o papel, a origem e as espécies dos hospedeiros ainda são desconhecidos quanto a manutenção do ciclo natural de muitos patógenos na natureza.

Recentemente, pesquisadores da Universidade de Liverpool publicaram no periódico Scientific Data a criação do maior banco de dados do mundo (Enhanced Infectious Diseases database - EID2) sobre as interações de hospedeiros e patógenos, além de relacionar a distribuição geográfica das espécies.

Conjuntos de dados da literatura científica e encontrados em bases de bancos já existentes foram sistematizados no estudo.   A relevância desta pesquisa consiste na análise adequada desse grande volume de dados que permite encontrar novas correlações (Big Data). Os metadados foram extraídos a partir do Centro Nacional de Informação Biotecnológica (NCBI) americano, tanto para os dados taxonômicos quanto para as sequências gênicas, além dos artigos científicos da base PubMed.

A disponibilização de dados mais importantes do EID2 está em quantificar as interações entre patógenos e seus hospedeiros, usando abordagens, tais como análise de rede. O acesso é livre pós cadastramento e pode ser atualizado regularmente por novas fontes de conjunto de dados. Já tem sido utilizada por cientistas como aporte para inúmeros objetivos, assim como:  aumentar o conhecimento sobre a epidemiologia de doenças humanas e animais; fazer inferências sobre os efeitos das mudanças climáticas nos patógenos; produzir mapas de risco para infecções emergentes em áreas geográficas vulneráveis com base em dados ambientais, como de clima, demografia e vegetação e assim facilitar o gerenciamento de possíveis surtos e também para categorizar as complexas relações entre hospedeiros e vetores de inúmeros patógenos humanos e animais.  

Para parasitas de mamíferos silvestres, por exemplo, uma lista de 5142 interações em nível de espécie ou subespécie foi obtido a partir do Banco de Dados Global Mamífero Parasite (GMPD) (http://www.mammalparasites.org/). A lista então foi tratada e processada para identificar as interações entre os mamíferos silvestres e de seus parasitas. Combinando as duas informações resultou em 1984 interações exclusivas entre mamíferos silvestres e parasitas.

A representação gráfica abaixo (Imagem 1) retirada do artigo é um outro exemplo de como este conjunto de dados pode ser utilizado na análise e apresentação de potenciais agentes patogénicos (bactérias, vírus, fungos, helmintos e protozoários) compartilhados entre as espécies de vertebrados.

Imagem 1: Cada nó representa um grupo de vertebrados. Os tamanhos dos nós estão proporcionais ao número de espécies de patógenos encontrados para cada hospedeiro; os traços que ligam esses nós também são proporcionais ao número de espécies de patógenos (Wardeh, M et al 2015).

(licença de reprodução da imagem cedida gentilmente pela Doutora Maya Wardeh)

Quando tivermos um panorama claro das espécies de patógenos encontrados em diferentes hospedeiros animais, domésticos e silvestres, seremos capazes de estudar as possíveis rotas pelas quais patógenos chegam às populações humanas.


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* Nádia Martinez é bióloga, especialista em gerenciamento ambiental (ESALQ-USP), mestre em ciências (FSP-USP) e apoia projeto de pesquisa do Centro em Informação em Saúde Silvestre - Fiocruz.