“Painel de discussão sobre a contribuição da modelagem de dados para vigilância e políticas públicas em saúde” reforça necessidade de as instituições compartilharem experiências

A importância de ampliar a interlocução entre diferentes instituições, estados e países permeou todos os debates do “Painel Internacional de discussão sobre a contribuição da modelagem de dados para vigilância e políticas públicas em saúde”. O evento foi realizado na última segunda-feira (22/8), no auditório de Bio-Manguinhos, na sede da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. 

Durante o encontro, promovido pela Fiocruz, Ministério da Saúde e Imperial College London, com apoio da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e da Fiotec, especialistas apresentaram suas experiências com a construção e aplicação de modelos matemáticos para prevenção e controle da transmissão agentes infecciosos causadores de zoonoses. A necessidade de compartilhamento de dados e conhecimento entre pesquisadores e gestores de políticas públicas em saúde foi um dos destaques. 

 
Pesquisadores da Imperial College London e representantes do Ministério da Saúde participam de seminário científico na Fiocruz. Foto: Barbara Souza

Coordenador-geral de Vigilância das Arboviroses do Ministério da Saúde, Cássio Peterka destacou que a interlocução entre vários setores é a chave para melhorar as políticas públicas, como campanhas de vacinação, controle de vetores e vigilância. “Falar sobre as modelagens para a utilização na saúde é fundamental para que tenhamos uma vigilância mais rápida e atuante. A modelagem é muito importante para embasar desde a tomada de decisão técnica até a gestão de ações mais efetivas”, afirmou.  

Líder de pesquisa do Consórcio de Modelagem de Impacto de Vacinas e pesquisadora em modelagem matemática de doenças infecciosas no Imperial College London, Katy Gaythorpe  explicou que “quando diferentes modelos com o mesmo objetivo são comparados, é possível extrair dados importantes que ajudam a entender o que precisa ser aprimorado e o que funciona. Por isso, é preciso combinar os dados para serem analisados em conjunto”. 


Cássio Peterka, Marcia Chame e Katy Gaythorpe na mesa de encerramento do painel. Foto: Barbara Souza

Para Tânia Fonseca, assessora técnica da Coordenação de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, “a discussão de modelagem traz para o campo da vigilância um avanço técnico-científico indiscutível por permitir atuação imediata no controle de agravos e também a antecipação à expansão de agravos”.

O evento contou com a presença de representantes de seis coordenações da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde: Coordenação-geral de Vigilância das Arbovirores, Coordenação-geral de Informações e Análises Epidemiológicas, Coordenação-geral de Vigilância de Zoonoses e Doenças de Transmissão Vetorial, Coordenação-geral de Vigilância das Síndromes Gripais, Coordenação Geral de Laboratórios de Saúde Pública e Coordenação-geral do Programa Nacional de Imunizações. Portanto, além da interação entre diferentes órgãos, o encontro também promoveu a troca interna de experiências na SVS/MS.  


À esquerda, Katy Gaythorpe, ao lado de Tânia Fonseca, da Fiocruz. Foto: Barbara Souza

Com inscrições esgotadas em dois dias, o painel reuniu ainda representantes da Opas/OMS, de diferentes unidades da Fiocruz – Instituto Nacional de Infectologia (INI), Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), do Instituto Pasteur (Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo) e da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul. Além da equipe de pesquisadores da MRC – Centre for Global Infectious Disease Analysis da Imperial College London, na Inglaterra.  

O seminário abriu a semana composta por outras duas atividades: a “Oficina de Trabalho sobre Modelagem de Dados: Apoiando o Caminho da Coleta de Dados à Análise de Surtos”, realizada de 23 a 25 de agosto no Palácio Itaboraí, em Petrópolis (RJ), e o trabalho de campo com as atividades de vigilância de epizootias de febre amarela e outras arboviroses, no Centro de Primatologia do Rio de Janeiro (CPRJ), em Guapimirim, no dia 26.  

A semana é fruto da interação iniciada em 2018 entre pesquisadores da Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre/Fiocruz, da Coordenação Geral de Vigilância das Arboviroses da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde e do Imperial College London, que desde então busca diálogos em torno, principalmente, da pesquisa e desenvolvimento de modelos de suscetibilidade à Febre Amarela no Brasil. 


Público do painel internacional no auditório de Bio-Manguinhos. Foto: Barbara Souza

“Diálogos sobre as diferentes metodologias utilizadas e experiências adquiridas são fundamentais para que o desenvolvimento de modelos preditivos seja cada vez mais efetivo para a vigilância em saúde pública. A experiência brasileira com a febre amarela, que reuniu pesquisadores e gestores, métodos e técnicas de modelagem de identificação de áreas de maior favorabilidade e corredores de dispersão do vírus, e implementou o SISS-Geo para a notificação de primatas não humanos e alertas em tempo real, com a participação de profissionais de saúde, de outros setores e da sociedade, permitiu a identificação de áreas prioritárias para a vacinação e a redução de mais de 90% das mortes humanas a partir de 2019. Pela primeira vez, andamos na frente do vírus. Isso mostra um caminho a perseguir e o quanto somos capazes de juntos, instituições e sociedade, com dados de qualidade, tecnologia, inovação e com apoio, gerar conhecimento para enfrentarmos velhos e novos desafios na emergência de doenças”, concluiu a coordenadora da Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre, da Fiocruz, Marcia Chame.