Centro de Informação dará alertas sobre doenças emergentes

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Marina Lemle / Fiocruz

Relacionar a ocorrência de patógenos com seus hospedeiros, vetores, seres humanos e as condições ambientais não é tarefa simples. Muito conhecimento já existe, mas está disperso entre setores como a pecuária, a saúde humana, a pesquisa científica da vida silvestre e outras áreas da ciência. Juntar e consolidar esse conhecimento num país das dimensões do Brasil, com a maior biodiversidade do mundo, é um desafio igualmente grande. Para enfrentá-lo, a Fiocruz idealizou o Centro de Informação em Saúde Silvestre - CISS coordenado pela bióloga e pesquisadora Marcia Chame, um centro virtual que deverá aglutinar os conhecimentos específicos sobre o tema. 

Modelos de alerta e futuros modelos de previsão de emergência de doenças advindas da fauna silvestre serão gerados a partir do Sistema de Informação em Saúde Silvestre, desenvolvido em parceria com o Laboratório Nacional de Computação Científica – LNCC. A análise sistematizada dos dados aportados ao sistema pela sociedade e especialistas favorecerá o desenvolvimento de boas práticas em saúde que harmonizem a conservação das espécies com a manutenção da qualidade de vida, apoiem a vigilância em saúde humana e animal e promovam a sustentabilidade das unidades de conservação e dos grandes empreendimentos.

Todos podem contribuir

O coração do Centro de Informação em Saúde Silvestre é o Sistema de Informação em Saúde Silvestre (SISS-Geo), explica a pesquisadora Marcia Chame. Com o aplicativo instalado no celular ou pela internet, qualquer pessoa poderá alimentar o Sistema e se tornar parte desta construção.

Foto de Marcia ChameMarcia ressalta que é muito importante as pessoas terem cuidado com os animais. “Quando se encontra um animal numa situação estranha, jamais deve-se pegá-lo ou manipulá-lo”, diz.

“Ao ver um animal com um comportamento que considere anormal, como um morcego encolhido no chão, um bicho com alguma hemorragia ou secreção estranha, ou roedores demais numa determinada área, a pessoa poderá registrar o evento informando o tipo de animal, quantos eram, se o local é floresta, Caatinga, Cerrado, se há rio próximo e enviar fotos e vídeos. O colaborador também poderá sugerir a relação com algum impacto ambiental, como queimada, desmatamento, enchente ou um movimento de terras causado por uma grande construção”, explica a pesquisadora.

Com o aplicativo previamente instalado, mesmo que a pessoa esteja em campo, sem acesso à rede, no momento da observação, poderá fazer o registro. Os dados de localização são georreferenciados via satélite e ficam armazenados no celular. Quando houver conexão, as informações serão enviadas ao SISS.

As informações enviadas pelos colaboradores serão armazenadas em banco de dados georreferenciados integrado a um grande volume de dados de instituições governamentais parceiras. A partir do cruzamento dos registros e das informações ambientais e antrópicas associadas serão construídos modelos de alerta e previsão.

Pautado em técnicas de aprendizagem de máquina, o sistema inteligente leva em consideração informações como distância territorial dos registros, intervalo de tempo entre eles, frequência em que ocorrem, similaridade taxonômica dos grupos envolvidos e relações com impactos ambientais notificados.

“O acúmulo de informações sobre um mesmo local num tempo muito curto nos dará um alerta de que algo emergencial pode estar acontecendo ali”, diz Marcia.

Neste caso, explica, o Centro buscará informações mais específicas, por meio da visita de agentes de saúde ou do ICMBio, que poderão fazer coletas de amostras biológicas para possibilitar um diagnóstico confiável do que de fato está acontecendo. O resultado deste diagnóstico, inserido no sistema, realimenta o modelo matemático, de modo que ele vai criando padrões de ocorrências entre animais, doenças e situações ambientais e com isso gera modelos de previsão, que vão tendo sua eficiência de predição aprimorada por meio do aprendizado acumulado.

“Este é um sistema de longo prazo. Ele não nasce pronto, é construído com as informações coletadas e evolui a partir dela”, explica.