Contribuições da fotografia para a saúde silvestre: Diogo Lagroteria, veterinário

Crédito
Rita Braune

Henry Cartier-Bresson, um dos grandes mestres da fotografia do século XX dizia que a fotografia é o único meio de expressão que fixa para sempre o instante preciso e transitório. “Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-Ias voltar”.

Quando o assunto é o ambiente, abre-se um universo de contribuições para a conservação seja como ferramenta de denúncia, mobilização, esclarecimentos, mudanças de comportamentos, apoio ao diagnóstico de doenças e busca de soluções, entre outras.


Diogo Lagroteria, médico veterinário e integrante da Rede Participativa em Saúde Silvestre, se interessou ainda criança pela fotografia e a utiliza como ferramenta do seu trabalho junto a fauna silvestre desde 2005, quando se mudou para Manaus.  

Diogo relatou sua contribuição para minimizar o surgimento e a transmissão de doenças entre a vida silvestre e humanos e disse que o apoio ao diagnóstico é um dos benefícios mais interessantes, já que traz uma outra perspectiva da fotografia que utiliza uma variedade gráfica infinita, podendo provocar esclarecimentos, questionamentos, mudanças de comportamento e auxiliar na busca por soluções de problemas, tratamentos e diagnósticos de doenças.

“Uso a fotografia como ferramenta para ajudar em questões relacionadas à doenças e diagnósticos fotografando necropsias, achados clínicos, particularidades anatômicas e outras situações que ajudam na troca de informações entre colegas que trabalham com conservação e diagnósticos além de servir como forma de divulgação em trabalhos científicos, congressos e workshops”, disse Diogo.

Diogo relatou que é comum receber animais com sequelas de maus tratos e os registros fotográficos servem de apoio para denúncias, peças publicitárias, reportagens jornalísticas, relatórios e outros materiais.

Como ferramenta de apoio ao diagnóstico, Diogo fotografa e compartilha com outros pesquisadores situações de achados clínicos e recebe apoio para o entendimento do “problema” e fechamento do diagnóstico.

No campo da denúncia, a fotografia tem cumprido seu papel de ajudar a população ao alertar e auxiliar na solução de problemas do meio ambiente.

A foto abaixo é um exemplo de registro fotográfico que denuncia a destruição das praias e mares. Tirada por Diogo no Parque Nacional do Superagui, Paraná, em 01 de janeiro de 2013, a foto já foi apresentada em diversas exposições além de ilustrar reportagens.

“Nesse planeta tudo está conectado. O lixo que você joga pela janela do seu carro vai ser levado pela chuva até algum igarapé, que  por sua vez vai se encarregar de levar esse e outros lixos para o mar. E no mar, ele vai matar tartarugas que confundirão uma tampinha plástica com comida, gaivotas que se prenderão aos fios de uma velha rede boiando, caranguejos que terão suas casas contaminadas por óleo”, disse Diogo.

Um outro exemplo de contribuição importante para a conservação foi o registro fotográfico de uma espécie viva e rara, o Guácharo - Steatornis caripensis.

Diogo conta: “Fomos chamados para resgatar um "gavião esquisito" que estava no centro de Manaus. Chegando ao local, fiquei totalmente surpreso quando vi que se tratava de um Guácharo, ave noturna que está a cerca de 1000 Km da sua área de distribuição mais próxima, no monte Roraima. Ainda não tinha registro dessa espécie viva dentro do Brasil. Agora começo a pensar se ela não está nas rochas e cavernas de Presidente Figueiredo.”

Diogo chama a atenção para a importância dos sites colaborativos que trazem informações interessantes sobre a observação de aves e seu potencial turístico:  
“Somente o estado do Amazonas tem registros fotográficos de 863 espécies diferentes! A cidade de Manaus sozinha detém 510 espécies registradas, mais do que o número total de espécies de vários países do mundo. Um verdadeiro recorde! Isso demonstra a capacidade da cidade em captar turistas para a prática da observação e fotografia de aves, o popular “Birdwhatching”, que ajuda a gerar renda para as populações locais”.

Outra vertente da fotografia que vem trazendo importantes contribuições, são as câmeras fotográficas automáticas, conhecidas como câmeras trap, que são programadas e posicionadas estrategicamente.  Espécies até então consideradas extintas localmente começaram a aparecer assim como caçadores flagrados pelas câmeras.

A fotografia é utilizada ainda como recurso para auxiliar na identificação de animais como é o caso do projeto das baleias Jubartes no litoral do Brasil e outro projeto com o boto vermelho em que um grupo de pesquisadores vem fotografando os animais para um banco de dados.

Assim como Diogo, outros profissionais que estão próximos a ambientes naturais, podem contribuir enviando o registro de animais que observam no seu dia-a-dia para o SISS-Geo (Sistema de Informação em Saúde Silvestre), um aplicativo desenvolvido pela Fiocruz para gerar modelos de alertas de agravos na fauna silvestre, especialmente os com potencial de acometimento humano. O SISS-Geo está disponível para celulares e tablets (Android e IOS) e ainda, na Internet.