Incêndios e a Saúde Única no Pantanal

Crédito
Marcia Chame - Coordenadora da Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre/Fiocruz

A Plataforma Institucional Biodiversidade e Saúde Silvestre da Fiocruz atua desde 2019 no Pantanal do Mato Grosso do Sul (MS) e o Mato Grosso (MT) em conjunto com a Fiocruz MS, Embrapa Pantanal e a Universidade Estadual de Mato Grosso em Cáceres, com objetivo de identificar como as mudanças ambientais e, em especial, os incêndios impactam a saúde das comunidades locais e da fauna silvestre e doméstica e emergência de zoonoses e arboviroses.

O primeiro estudo foi possível com o financiamento do Projeto INOVA Territórios Saudáveis e Sustentáveis “Participação da sociedade na vigilância de emergência de zoonoses como efeito pós-incêndios no território e formação de estratégias integradas de prevenção e controle” que ocorreu de 2019 a 2021. A partir de 2024 se iniciam dois projetos conexos "Indicadores e vigilância participativa em Saúde Única no Pantanal: entre saberes e ciência um novo modelo para a prevenção e controle de emergência de zoonoses“ e “Vigilância laboratorial de patógenos emergentes, reemergentes e negligenciados e seus determinantes sociais em populações em condições de saúde vulnerabilizadas” com apoio do CNPq/Ministério da Saúde, nos mesmos territórios que incluem Corumbá, Poconé, Barão de Melgaço e Cáceres.

Resultados já alcançados apontam a complexidade dos impactos tanto do ponto de vista social com a perda da produção local de alimentos; distúrbios mentais; alterações do ar e da água comprometendo de forma importante a saúde humana e animal; aumento da predação de animais domésticos e a perda da biodiversidade que impacta a venda de iscas para o turismo de pescaria; uso de vegetais para palhoça e artesanato; a recuperação do ecossistema e, portanto, da capacidade de manutenção da vida. Os agravos em humanos abrangem desde Infecções intestinais, respiratórias, de pele, intoxicações, aumento de arboviroses nas áreas urbanas até suicídios e depressão entre jovens. Sobre os animais, além da morte imediata pela queimadura, observa-se também distúrbios mentais como desorientação; a morte branca, aquela que ocorre pela queimadura das vias áreas e pulmões, fome e o deslocamento e sobreposições de áreas uso entre espécies e humanos em busca de alimento e água.

Neste cenário, está o risco de emergência que deve ser monitorado. Para isso, os trabalhos realizados em campo oferecem oficinas formativas para a participação das comunidades como parte atuante na ampliação e monitoramento da emergência de zoonoses com o uso do Sistema de Informação em Saúde Silvestre – o SISS-Geo. No aplicativo e na Web, o sistema permite que qualquer pessoa participe e ajude a registrar animais vivos, mortos ou doentes e a partir das informações dos animais, do ambiente e dos impactos no local e a partir da informação em tempo real distribuída para o setor saúde a vigilância realiza a investigação e os dados gerados poderão ser utilizados para geração de modelos de previsão. Concomitantemente, estão programados mapeamentos por drone e participativos ecológicos e sociais, identificação de patógenos circulantes e formação e orientação para que os arranjos organizacionais das comunidades humanas e animais no Pantanal modificados pelos incêndios e outros impactos possam minimizar riscos à saúde. A construção a partir de saberes e do conhecimento científico busca subsidiar políticas públicas para implantação de ações de controle e prevenção de agravos considerando, a construção de indicadores que possam ser utilizados para implementação de uma estratégia de Saúde única no território.

Na pesquisa anterior a manifestação voluntária de grupos indígenas da vontade e interesse em se manter como Núcleos de monitoramento de emergência de zoonoses é o motivo de continuarmos os estudos e apoiá-los na emancipação da formação de caminhos próprios, seguros e sustentáveis.