Perda da biodiversidade causa impacto para a saúde humana, diz a CDB e OMS

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CDB - Press Relase

Montreal, 4 de junho de 2015 - Populações saudáveis dependem de ecossistemas em bom funcionamento. Eles fornecem ar puro, água doce, medicamentos, segurança alimentar e ainda limitam doenças e estabilizam o clima. Porém, de acordo com uma nova avaliação do conhecimento feita pela CDB-Convenção da Diversidade Biológica e OMS - Organização Mundial da Saúde, a perda da biodiversidade vem acontecendo em taxas sem precedentes, impactando a saúde humana no mundo todo.

O relatório Conectando Prioridades Globais: Biodiversidade e Saúde Humana (Connecting Global Priorities: Biodiversity and Human Health), lançado em 4 de junho em Bruxelas, durante a maior conferência europeia de política ambiental (Semana Verde - Green Week 2015), focaliza as complexas e multifacetadas conexões entre a biodiversidade e a saúde humana, e como a perda da biodiversidade e os serviços correspondentes podem influenciar negativamente a saúde. Em uma das primeiras avaliações integrativas deste tipo, o relatório traz o conhecimento de várias disciplinas científicas, incluindo saúde pública, conservação, agricultura, epidemiologia e desenvolvimento.

"Este estado de avaliação do conhecimento é uma significativa contribuição para o nosso entendimento sobre as complexas relações entre a biodiversidade e a saúde", disse Braulio Ferreira de Souza Dias, Secretário Executivo da Convenção da Diversidade Biológica. "Aumentar nosso conhecimento nos permite desenvolver soluções efetivas capazes de estreitar a resiliência dos ecossistemas e a mitigação de forças que impedem a habilidade de disponibilizar serviços de apoio à vida."

"Todos os aspectos do bem estar humano dependem de um bom ecossistema e serviços, que por sua vez dependem da biodiversidade. A perda da biodiversidade pode desestabilizar ecossistemas, provocar surtos de doenças infecciosas e minar o desenvolvimento do progresso, nutrição, segurança e proteção de desastres naturais", disse a Dra Maria Neira, Diretora do Departamento de Saúde Pública, Ambiente e Determinantes Sociais da Saúde da Organização Mundial da Saúde. "Proteger a saúde pública destes riscos está fora dos papéis tradicionais do setor de sáude". Nós estamos prontos para trabalhar com outros setores e trazer mudanças."

Acesso à quantidade, qualidade e diversidade suficiente de alimentos, ar puro, água doce, medicamentos e assistência médica não são centrais apenas para manter a saúde das populações, são pilares fundamentais para o desenvolvimento sustentável. Encontrar esses recursos enquanto se enfrenta os desafios da perda da biodiversidade, degradação dos ecossistemas, pandemias de doenças emergentes e deslocar os encargos das doenças não é uma façanha insuperável, mas requer uma ação combinada, baseada em evidências robustas e coordenada com soluções intersetoriais.

Este relatório abrangente traz um conhecimento de vanguarda, demonstrando que a perda da biodiversidade, a degradação dos ecosistemas e os problemas de saúde compartilham ameaças comuns e apontam para soluções inovadoras e intersetoriais que se reforçam mutuamente.

Esta contribuição é especialmente oportuna no momento em que os governos finalizam o acordo da Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e se preparam para novos compromissos globais para enfrentar as alterações climáticas até o final de 2015.

Entre as ameaças comuns identificadas neste relatório, a alteração do uso da terra é identificada como um importante fator de perda de biodiversidade para a maioria dos urgentes desafios de saúde pública. Por exemplo, a mudança no uso da terra por meio do desflorestamento, conduz à emergência de doenças em humanos e acredita-se que contribuiu para o recente surto de Ebola no oeste da Africa.

Embora o desenvolvimento resultante dos recursos de água doce e terrestres esteja associado à alguns benefícios para a saúde, estes são distribuídos de forma desigual, muitas vezes em detrimento das populações mais vulneráveis. Por exemplo, em condições insustentáveis, as práticas agrícolas industriais em muitas partes do mundo também podem agravar a perda de biodiversidade, surtos de pragas e doenças, deficiências de micronutrientes, a resistência aos antibióticos e os impactos das mudanças climáticas sobre a saúde. Estes resultados não são inevitáveis e podem ser evitados através de esforços globais concentrados, conectando o vasto conhecimento científico e local e desenvolvendo prioridades da política setorial em direção a um futuro mais saudável, mais justo e sustentável.

Contribuições de mais de 100 cientistas  e profissionais que trabalham em política global de saúde pública e conservação da biodiversidade foram incluídos no relatório, incluindo especialistas em Biodiversidade Internacional, COAHAB Iniciativa (COHAB Initiative), Diversitas, Aliança EcoHealth (EcoHealth Alliance), Escola de Saúde Pública de Harvard (Harvard School of Public Health), IUCN, Universidade das Nações Unidas (United Nations University), Fundação Oswaldo Cruz, e Sociedade de Conservação da Vida Selvagem (Wildlife Conservation Society).

Nota: A Fiocruz representada pelos pesquisadores Daniel Buss e Marcia Chame participaram da elaboração do relatório.