SISS-Geo nas trilhas - A importância do ecoturismo para a vigilância de zoonoses emergentes e monitoramento da fauna

Crédito
Pedro Zeno e Luiz Gomes

O ecoturismo, também conhecido como turismo ecológico, é um segmento que abrange, além do lazer e da atividade física, a educação ambiental e a conservação da natureza a fim de promover a sustentabilidade das áreas naturais. Milhares de pessoas recorrem a esse tipo de turismo para ter contato mais próximo com a natureza e com a vida silvestre. A experiência de aproveitar os ambientes naturais, com baixa modificação humana, para a observação da fauna é bastante procurada por pessoas das cidades com rotina agitada que buscam efeitos importantes na saúde mental e física. Além disso, a prática ecoturística, realizada de maneira adequada, tem potencial para auxiliar a conservação da biodiversidade, criando oportunidades para a valorização e sensibilização da necessidade de manutenção da biodiversidade. Desperta, ainda, novas possibilidades econômicas e de manutenção da cultura local, fortalecendo valores de pertencimento ao território.

Assim como estamos expostos a riscos próprios dos ambientes urbanos nas grandes cidades, estar em ambientes naturais significa também estar exposto a riscos específicos destes ambientes. Conhecer estes riscos e estar preparado para evitá-los deve ser uma preocupação e responsabilidade dos agentes turísticos e condutores de trilhas, da mesma forma que buscar informação e tomar as medidas preventivas disponíveis também deve ser ação do ecoturista, trilheiro ou esportista de aventura. Além das medidas de proteção individual ou de um grupo na trilha, esta atividade e pessoas podem ser atores da proteção coletiva da ocorrência de zoonoses. A colaboração de cada um com a notificação de animais mortos ou doentes e mesmo animais vivos durante uma caminhada, pedalada ou uma remada pode, se a informação chegar em tempo hábil e ao setor responsável, desencadear a investigação e identificar a presença de agentes infecciosos na área, e, a partir do diagnóstico, favorecer a implementação de ações de prevenção e controle.

Como posso participar?

Baixe o app no Google Play ou na Apple Store ou acesse www.biodiversidade.ciss.fiocruz.br e clique no mapa.

Qualquer pessoa pode participar. Para isso, a Fiocruz criou o SISS-Geo - Sistema de Informação em Saúde Silvestre. O sistema foi criado para fortalecer a vigilância de zoonoses emergentes por meio do monitoramento participativo de animais silvestres no Brasil. Um simples registro no app  de um animal sadio, doente ou morto, e também vestígios, pode desencadear alertas automatizados aos gestores, indicando a localização precisa, o tipo de animal e condições físicas do animal e com isso facilitando a investigação de uma nova doença ou a presença desconhecida de agentes infecciosos numa região. Os registros de macacos, por exemplo, geram alertas em tempo real a partir dos quais os municípios iniciam as ações estratégicas de combate à febre amarela.  

Múltiplos usos e diferentes fins 

No desafio crescente que coloca os impactos humanos como fatores que desequilibram os ambientes naturais e aproximam agentes infecciosos de animais e pessoas, os ecoturistas e todo o segmento nele envolvido são importantes e estratégicos. O SISS-Geo é construído sobre os princípios da ciência cidadã, que contempla a horizontalidade de saberes e experiências de todos. Os dados gerados pelos colaboradores subsidiam estudos sobre diversas espécies e a geração de modelos computacionais a partir de dados que indicam áreas onde há favorabilidade de ocorrência da transmissão de agentes infecciosos causadores de doenças nas pessoas e animais.  


Como o público do turismo pode se beneficiar usando o SISS-Geo?

Os amantes da natureza  podem se beneficiar ambiental e socialmente do SISS-Geo, pois o sistema se diferencia de outros aplicativos de registros e monitoramento de animais pelo componente pedagógico nos planos individual e coletivo, além do campo de políticas públicas nas áreas de saúde, ambiente e turismo. Mas de que maneira? Primeiro, conhecendo melhor os animais, já que uma equipe de especialistas identifica os animais registrados (família, gênero, espécie) e envia um e-mail ao colaborador com seu nome científico. Este retorno equivale a importante componente de aprendizagem, que aproxima as pessoas com diferentes saberes em relação à fauna silvestre e ao ambiente. Segundo, o conhecimento da ocorrência de alguma anormalidade na região visitada, como desequilíbrio ambiental ou a morte de animais mobiliza os setores responsáveis para tomada de decisão e o conhecimento da ocorrência natural de doenças na região auxilia a sensibilizar e instruir seus colaboradores e o público do turismo sobre como se proteger nas trilhas, como por exemplo, estar com a vacina da febre amarela em dia, usar roupas adequadas, avisar sobre alergias e outros problemas de saúde, ainda que seja depois do passeio. 

Conheça alguns de nossos colaboradores que são condutores de trilhas, montanhistas ou amantes da natureza:


Em dezembro de 2022, somos mais de 10 mil colaboradores 

 

SISS-Geo no I Congresso Brasileiro de Trilhas 

De 25 a 29 de maio de 2022, foi realizado o I Congresso Brasileiro de Trilhas, promovido pela Rede Brasileira de Trilhas de Longo Curso, que reuniu 683 participantes no Centro Cultural Oscar Niemeyer no município de Goiânia, em Goiás. 

O evento foi um sucesso e contou com apresentação de projetos nacionais e internacionais, palestras temáticas, o uso de aplicativos de trilhas, práticas esportivas em Unidades de Conservação, visitas técnicas a trilhas implementadas na região de Goiânia e municípios vizinhos e o papel cidadão na manutenção ambiental de áreas que possuem visitação e uso público. 

A Palestra “Saúde Silvestre - a gente se encontra nas trilhas”, proferida pela Dra. Marcia Chame da Fiocruz/Plataforma SISS-Geo, apresentou a importância de conhecermos os animais dos locais por onde andamos, as doenças naturais destes locais e a importância do manejo e conduta adequada nas trilhas, convidando a todos a usarem o SISS-Geo e contribuírem com a vigilância da emergência de zoonoses no Brasil. 


  O  SISS-Geo no I Congresso Brasileiro de Trilhas - 25 a 29 de maio de 2022, Goiânia, GO

No dia 28, cerca de 30 pessoas, entre gestores e profissionais das áreas de ambiente e turismo, puderam conhecer a história da criação do SISS-Geo durante a oficina prática sobre como usar o aplicativo para monitorar a fauna silvestre nas trilhas de longo curso no país, de maneira integrada com a vigilância de zoonoses emergentes. Estiveram presentes na oficina membros da sociedade civil e protagonistas de projetos de trilhas de diversos estados e municípios do país, além de gestores ambientais e de turismo, guias de ecoturismo e pesquisadores.


 Oficina SISS-Geo no I Congresso Brasileiro de Trilhas, 25 a 29 de maio de 2022. Com a participação de Pedro Zeno e  Pheterson Godinho -  Embaixador SISS-Geo 

O fim do evento foi marcado pela assinatura da Carta dos Goyases, que busca institucionalmente “uma instância legítima, representativa e permanente de governança da Rede Trilhas, incluindo as três esferas federativas, a sociedade civil organizada, as universidades e a iniciativa privada, com foco e atuação em todo o território do Brasil”. 

O 2º Congresso Brasileiro de Trilhas de Longo Curso, a ser realizado em 2023, já tem local definido: será em Niterói, no estado do Rio de Janeiro. O prefeito do município, Axel Grael, esteve presente com uma comitiva formada por integrantes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.